
Construção Metálica
Atualmente, o setor da construção civil mais industrializado no Brasil é o da construção metálica. A explicação é simples. Nos últimos 30 anos, a construção metálica saiu praticamente do ostracismo para um setor com grandes perspectivas de crescimento nos próximos anos. Esse trabalho é resultado de grandes investimentos em novas tecnologias e maquinários especializados.
Com isso, a utilização do aço tem crescido a cada ano e a tendência é de um aumento maior com a divulgação das vantagens da construção metálica, que se apresenta como uma boa opção ao sistema convencional.
No Brasil, entre 4% e 5% dos prédios construídos com mais de quatro andares usam estrutura de aço. Já na Inglaterra, o percentual é de mais de 70%.
Outra amostra do potencial deste mercado é o índice de consumo do aço por habitante. Aqui o consumo é de 5 kg por habitante/ano, na Inglaterra são 20 kg, e na Alemanha e nos Estados Unidos, 30 Kg.
Segundo dados do IBS - Instituto Brasileiro da Siderurgia, o setor da Construção Civil é responsável por 27% do consumo de aço no País, sendo que, no segmento de aços planos, o setor representa 13% da demanda brasileira. "Para 2006, as perspectivas de crescimento para o setor da Construção Metálica são boas, fundamentadas no incremento de produtos e soluções industrializadas, aliadas aos investimentos em infra-estrutura pelos setores públicos e privados e devidos às medidas de desoneração fiscal de muitos produtos direcionados à Construção Civil e também com a redução das taxas de juros", analisa José Eliseu Verzoni, presidente da Abcem - Associação Brasileira da Construção Metálica. Existe um prognóstico de crescimento por conta da procura do aço para aeroportos, escolas e universidades, devido às vantagens.
Cultura
Para especialistas do setor o maior obstáculo para o crescimento da utilização do aço em construções ainda é cultural. Segundo o arquiteto Mario Biselli, isso é reflexo das primeiras obras da arquitetura moderna brasileira, na figura de Oscar Niemayer e da Escola Carioca de Arquitetura. "A arquitetura do Oscar é uma homenagem à engenharia brasileira. E, naquela época, a engenharia era a do concreto", comenta Biselli. Para ele a técnica que é a expressão do Brasil contemporâneo, depois da privatização das siderúrgicas e que o Brasil começou a produzir tecnologia de ponta neste setor, é o aço. "Usar as estruturas de aço, hoje, é homenagear essa nova conquista da tecnologia brasileira", afirma o arquiteto.
Para Verzoni é necessário criar uma cultura do uso do aço em toda a cadeia produtiva. "Desde o usuário, que passará a conhecer as vantagens da linguagem do aço; ao investidor, que perceberá as vantagens do custo X benefício; ao fabricante, que terá uma produção planejada e sem desperdícios - aspecto quase inatingível na construção convencional -; e ao construtor, que terá obra com técnica limpa, sustentável e integrada ao meio ambiente. O aço é 100% reciclável", comenta Verzoni.
Vantagens
O sistema construtivo em aço apresenta diferenciais importantes se comparado ao método convencional, em concreto armado.
A multiplicidade da construção metálica possibilita a utilização do aço em obras como edifícios de escritórios e de apartamentos, residências, habitações populares, pontes, passarelas, viadutos, galpões, supermercados, shoppings centers, lojas, postos de gasolina, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários, ginásios esportivos, torres de transmissão, entre outros.
Uma das vantagens é a liberdade no projeto de arquitetura. A tecnologia do aço confere aos arquitetos total liberdade criadora, permitindo a elaboração de projetos arrojados e de expressão arquitetônica marcante.
Outro ponto é o ganho de área útil. As seções dos pilares e das vigas de aço são substancialmente mais esbeltas do que as equivalentes em concreto, resultando em melhor aproveitamento do espaço interno e aumento da área útil, fatores muito importantes, principalmente em garagens.
A flexibilidade é outro benefício. A estrutura metálica mostra-se especialmente indicada nos casos onde há necessidade de adaptações, ampliações, reformas e mudança de ocupação de edifícios.
Além disso, torna mais fácil a passagem de utilidades como água, ar condicionado, eletricidade, esgoto, telefonia e informática. O sistema construtivo em aço é perfeitamente compatível com qualquer tipo de material de fechamento, tanto vertical como horizontal, admitindo desde os mais convencionais - tijolos, blocos e lajes moldadas in loco - até componentes pré-fabricados - lajes, painéis de concreto e painéis drywall.
A estrutura metálica também proporciona menor prazo de execução. A fabricação da estrutura em paralelo com a execução das fundações, a possibilidade de se trabalhar em diversas frentes de serviços simultaneamente, a diminuição de fôrmas e escoramentos, e o fato da montagem da estrutura não ser afetada pela ocorrência de chuvas, pode levar a uma redução de até 40% no tempo de execução, quando comparado com os processos convencionais.
A racionalização de materiais e mão-de-obra é outro ponto positivo. Em uma obra, por meio de processos convencionais, o desperdício de materiais pode chegar a 25% em peso. A estrutura metálica possibilita a adoção de sistemas industrializados, fazendo com que o desperdício seja sensivelmente reduzido.
Por serem mais leves, as estruturas metálicas também podem reduzir em até 30% o custo das fundações.
Projeto
O aço tem possibilitado aos arquitetos, engenheiros e construtores soluções arrojadas, eficientes e de alta qualidade. Os projetos em aço sempre estiveram associados à idéia de modernidade, inovação e vanguarda, traduzida em obras de grande expressão arquitetônica.
Mas é bom ressaltar que os benefícios financeiros da obra em estrutura metálica só poderão ser observados desde que os projetos sejam desenvolvidos especificamente para o material.
Na construção em aço o projeto é a parte mais demorada, mas compensada pela montagem na obra que leva menos tempo, liberando o imóvel para ocupação e gerando um retorno mais rápido do investimento.
Para o arquiteto SiegbertZanettini, alguns empresários ainda consideram a obra de aço mais cara porque insistem em construir sem projeto ou com projetos mal desenvolvidos. "Processos evoluídos de construção requerem processos avançados de projeto", lembra o arquiteto.
A construção industrializada é um processo que não aceita improvisações, porque seus elementos são fabricados, normalmente, longe do local definitivo da obra, tornando-se um grande processo de montagem. Por isso, construções em estrutura metálica requerem projetos altamente precisos e um planejamento meticuloso do cronograma da construção. O projeto arquitetônico deve ser concebido a partir dos conceitos de estruturas metálicas, evitando desta forma as perdas.
É preciso também dar atenção especial às ligações entre o aço e os demais materiais em uma obra, com um detalhamento preciso de todas as situações construtivas e das interferências com as instalações antes da fabricação, para evitar um atraso na montagem final.
Soluções
A opção pela estrutura metálica aparente ou revestida é a primeira decisão que o arquiteto deve tomar ao trabalhar com estrutura de aço. Ao contrário do que muitos possam pensar, a maior parte das obras em aço existentes no exterior são realizadas com o aço revestido. Essa solução, que pode significar redução nos custos de pintura e proteção contra incêndios, deve ser adotada quando o que importa são as inúmeras vantagens do aço como material estrutural e não o lado estético. Cabe ao arquiteto definir qual a solução mais adequada para cada obra. Nessa etapa do projeto é interessante uma consulta a um calculista que poderá orientar sobre as melhores alternativas.
É necessário um bom detalhamento do projeto estrutural que leve em conta as possíveis interferências com os projetos de instalações elétricas, hidráulicas, ar condicionado, evitando improvisações no canteiro de obras.
Independentemente do tipo de aço e do esquema de pintura empregados, alguns cuidados básicos nas etapas de projeto, fabricação e montagem da estrutura podem contribuir significativamente para melhorar a resistência à corrosão.
Outro ponto importante, na etapa de projeto, é a definição do sistema de ligação a ser adotado entre os elementos que compõem a estrutura metálica como: vigas, pilares e contraventamentos. É fundamental que os elementos de ligação - chapas, parafusos, soldas - apresentem resistência mecânica compatível com o aço utilizado na estrutura.
A escolha criteriosa entre um sistema de ligação soldado e/ou parafusado, pode significar uma obra mais econômica e tornar a montagem mais rápida e funcional.
Se a intenção do projeto for deixar as estruturas aparentes, o desenho das ligações assume uma importância maior. O formato, posição e quantidade de parafusos, chapas de ligação e nervuras de enrijecimento, são alguns dos itens que podem ter um forte apelo estético se convenientemente trabalhados pelo arquiteto em conjunto com o engenheiro calculista.
Constatações
Em um trabalho realizado pela mestranda em construção metálica, Urânia Costa, foi feita uma análise dos tipos de vedação utilizados nas estruturas metálicas. A partir dos resultados apresentados é possível constatar as principais deficiências do mercado com relação à aplicação dessas estruturas.
Detectou-se que grande parte das patologias construtivas e problemas executivos são devidos à deficiência de projeto e de planejamento do processo de produção.
Segundo Urânia, na construção metálica a exatidão e a compatibilização perfeitas dos vários projetos são necessárias para se aproveitar as vantagens que o aço e a industrialização podem oferecer. Ou seja, se a estrutura pode oferecer rapidez, leveza e limpeza no canteiro de obras, os outros sistemas têm que estar afinados e sincronizados com o primeiro de maneira milimétrica. Também para Verzoni a industrialização dos processos é fundamental. "Enquanto a construção civil trabalha com centímetros a metálica trabalha com milímetros", explicando a exatidão do trabalho.
Na análise, fica evidente que o ponto crítico da associação entre estruturas metálicas e sistemas de vedação é justamente a ligação entre os dois sistemas. A fixação e as juntas são o ponto chave desse casamento, já que os dois sistemas devem trabalhar de forma diferenciada, com liberdade para movimentação. E além disso, as junções devem garantir isolamento térmico, acústico e estanqueidade. Dessa forma, as soluções de projeto para tais questões devem ser estudadas e executadas de modo a não gerarem patologias futuras nas construções.
A viabilidade das estruturas metálicas no mercado está diretamente ligada ao sucesso de sua associação com os sistemas de vedação. É a partir do bom casamento desses dois sistemas, que se pode chegar a uma concepção realmente industrializada e eficiente da obra, já que todas as outras etapas complementares de uma construção devem se basear e se adaptar à estrutura e às vedações.
Os projetos, sua compatibilização, assim como o planejamento dos processos de concepção e de execução da obra ganhou importância vital na nova filosofia construtiva, que se delineia no cenário nacional. Dessa forma, a construção metálica e industrializada pode ser vista como uma promessa de solução racional e viável para as necessidades da construção no País.
Novos Mercados
A empresa finlandesa Botnia fez opção pela estrutura metálica em sua nova fábrica na cidade de Fray Bentos, no norte do Uruguai.
A empresa contratada para fabricar, transportar e montar 4.500 toneladas de estruturas galvanizadas a fogo, que vão ser utilizadas na construção, foi a Brafer Construções Metálica.
As montagens tiveram início em maio deste ano e vão ser concluídas em fevereiro de 2007. O projeto consiste num dos maiores investimentos de caráter industrial da história uruguaia, fazendo com que o produto interno bruto do país aumente em 1,6%. A previsão é de que, depois de encerrada a obra, mais de oito mil postos de trabalho sejam gerados.
Esse é mais um exemplo do avanço das empresas brasileiras de construção metálica no mercado externo. De acordo com Luiz Carlos Caggiano, vice-presidente da Brafer, apesar do câmbio desfavorável, contratos como esse são representativos. "O maior desafio, neste caso, foi a viabilização dos preços diante da forte concorrência de empresas sul-americanas, do leste europeu e asiáticas", destaca.
O segmento de papel e celulose continua aquecido, considerando que desde 2002 a Brafer fornece estruturas metálicas tanto para empresas brasileiras como Cenibra, Suzano, Veracel, Bahia Pulp e as chilenas Arauco e CMPC. "Tudo indica que os investimentos se estendam até meados de 2007", ressalta Caggiano.
A nova aposta a partir do segundo semestre de 2006 é no setor de Siderurgia. A Brafer vai participar do fornecimento de mais de 4.000 toneladas de estrutura metálica para a Usina Siderúrgica do Ceará - USC.
资源: CBCA